O prazer de assistir os amigos envelhecerem
Em seus casamentos e aniversários,
Sem, contudo, poder ter certeza
Se são realmente eles que envelhecem
Ou apenas nosso olhar sobre eles.
(Como quando esqueci o violão no Shopping.
Cheguei quinze minutos antes do cinema,
Comprei o bilhete e sentei na praça.
Na hora da sessão, me levantei
E deixei o instrumento encostado no banco.
Assisti o filme, peguei o metrô
E voltei para casa. Uma hora depois,
Lembrei do violão abandonado.
Dia seguinte voltei para busca-lo,
Torcendo para ter sido encontrado.
O segurança disse que sim,
Haviam lhe entregue um violão ontem,
E foi busca-lo para mim. Mas súbito
Tive medo, não que não fosse o meu,
Mas que não me reconhecesse mais.
Pois tanto eu teria mudado em uma noite
Sem notar, por estar sempre comigo,
Porém ele, assim distanciado
Momentaneamente, perceberia,
E não quereria retornar comigo.
E, com efeito, onde está esse violão
Que não aparece? O guarda,
Embora garanta que o recebera,
Não consegue encontra-lo, e imagino
Que ele se esconde de mim.
Mas não, ei-lo que aparece,
E é o mesmo, não mudou nada,
Salvo um clip que colocaram
Para melhor fechar a capa rasgada.
Agradeço e levo-o para casa.
Mas ele parece me olhar estranho,
Como quem desconfia de mim.
Claro, já foi esquecido uma vez,
E, por sua vez, não se esquecerá.
Mudamos, não seremos mais os mesmos.)
O prazer de envelhecer e assistir os amigos
Enquanto é assistido por eles,
Mudando continua, paulatinamente,
Tornando-se outros, distintos, diversos,
E mutuamente se reconhecendo.
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