Em trânsito

Perfuro a noite
Preparo a morte
O vento açoite
Escrevo certo
Por linhas tortas
Me ponho à parte
Aponto o norte
Prefiro a sorte
Cometa desgovernado
Na estrada esburacada
Pergaminho se desenrola
Na face encarquilhada
A caneta risca a estrada
Traça sulcos desordenados
O gato atravessa a via
As curvas denteiam a serra
Piscam olhos de gato
A estação repetidora
Luz no morro distante
Avião traceja o breu
A lâmpada de leitura
Reflete-se na janela
A lua cheia do céu
O amor espera à porta
O amor espera em Marte
O amor espera informe
O amor espera inerme
O amor espera insone
A Via Láctea deita na distância
Descansa.

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