Lar

A noite começa.
Salto na estação do pré-metrô,
Subo e desço a passarela,
Atravesso a avenida
Tão apropriadamente
Chamada de Suburbana.
Estou no meu porto
meu beco
minha nascente
minha foz.

Del Castilho.
Minha aldeia.
O último lugar onde nada acontece.
Olho do furacão,
Centro do Universo,
Meu umbigo,
Cujo cordão me liga à infância,
Me alimenta e sustenta,
Me renova a inocência
Nesses dias desencantos.
Meu útero materno,
Meu retiro espiritual,
Meu quebra-mar,
Onde o mundo não me alcança.
Minha vila.
Com pracinha, escola,
Condomínio de apartamentos,
Shopping-center e supermercados,
Botecos nas esquinas,
Igrejas protestantes
E terreiros de macumba,
E vão as mesmas pessoas
A todos esses lugares.
Com senhores aposentados
Barrigudos e carecas
Que varrem as folhas da rua,
Juntam e tacam fogo,
Provocando uma fumaceira dos diabos.
Com festa junina
Que acaba virando baile funk,
Com bicheiro na esquina
E comentários do assalto e do jogo de domingo.
Com moleques soltando pipa
E marmanjos jogando bola,
Com vizinhos fofoqueiros,
Ruas de paralelepípedo,
Prédios sem elevador
Porque só têm quatro andares.
Meu subúrbio.
Entre Madureira e Tijuca,
Entre Campo Grande e Leblon,
Entre Nova Iguaçu e New York,
Del Castilho.
De onde vim
E para onde vou
Quando tudo der errado

E não houver mais aonde ir.

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