Teatro

Assim a vida torna-se memória,
Como uma cidade que se deixa.
Assim a memória submerge em nós,
Como os rostos esmaecem nas fotos.

Como o palco em que subi hoje.
Fui visto e conhecido por todos,
Vi todos os rostos sem os conhecer.
Como o ônibus varando a noite
Ilumina as árvores que mal se vê.

Assim a memória torna-se difusa,
Como a neblina tomando a estrada.
Assim a vida submerge em nós,
Como um armário atulhado de trastes.

Como a velhinha que vi hoje,
Olhando o mundo de uma janela,
E eu a vendo sem ser visto.
Como da janela do ônibus
Vejo a escuridão que não me vê.

Assim nós submergimos na memória,
Como o ônibus na neblina da noite.
Assim a memória torna-se a vida,

Como um novo palco em que se chega.

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