Eclipse

No céu, a lua cheia se amarela, se avermelha,
Encoberta pela sombra do sol,
E se espalha em reportagens na televisão
E comentários da vizinhança.
A lua não desaparece, apenas sombreia,
Tornando nítido seu relevo, suas crateras,
E as pessoas param na rua para ver.
Na tela, um jogo no Maracanã
E flashes da lua em todos os lugares.
Pra que, se é a mesma lua
Que paira sobre todas as cabeças?
A mesma lua escurecida e estranha
Em todos os olhos, em todas as telas,
Repetida e multiplicada por mil,
Mas ainda assim ela mesma, única e só,
Esmaecida revelando-se às vistas
Enquanto, sem interesse, assiste nosso interesse,
Abotoando o céu negro,
Servindo de vértice a nossos olhares
E sendo assim a única coisa
Que existe entre meu coração,
Eclipsado e opaco, e você:
A certeza de que, por um segundo que seja,
Olhamos ambos na mesma direção.

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